CENTO E OITENTA DIAS
Plantarei flores de luz por nossa passagem na terra...
Regarei para iluminar a missão que nos impera.
Farei arranjos de gratidão aos nossos pais...
Irmãos, consaguineos, afins e amizades leais.
Farei buquês de gratidão porque nasci com luzes no coração.
Luzes que multiplicam quando sinto emoção!
Farei coroa de oliveira por cada pessoa que veio Querubim...
E que acendeu uma luz em mim.
Luzes, em meu Ser, que brilham no escuro.
E na escuridão me mostram um caminho para plantio seguro.
Ainda que algumas luzes apagaram quando o humor escurecia...
E acendiam ao emanar boa energia!
Flores de Luz plantei e que acendiam enquanto crescia e a bondade sentia...
Ou apagavam, quando a maldade do homem conhecia.
Acendiam nas brincadeiras juvenis...
Ou apagaram quando não compreendia meus irmãos curumins.
Apagou quando meu coração escureceu e começou aprisionar sentimentos...
E quando omitia murta de nossos pais para evitar tormentos!
Flores de luz que acendo uma quando deixo o amor entrar...
Quando deixo o bem dominar.
Flores de luz que iluminam minha face...
E desnudam meu disfarce...
Que aquecem meu movimento...
E alumia meu pensamento.
Flores de luz que uma queima toda vez que um amor se vai.
Ou quando uma decepção em mim recai!
Flores de luz que uma queimava quando alguém morria:
- Um anjo amigo ou família que partia!
Flores de luz que queimou uma quando nossa avó paterna foi ser estrela numa constelação...
E queimou mais uma, quando nossa avó materna adormeceu no caixão.
E quando papai adormecido na urna fúnebre não me respondia...
Deu curto circuito e um apagão que nada compreendia!
Plantei flores de luz que queimou até a fonte quando perdi o primeiro filho...
E queimou até o fio, quando perdi o segundo filho.
Queimou uma quando tia "Uçá" desistiu de vencer...
A luta contra o maldito câncer.
Queimou uma quando vovô dormiu para o mundo...
E queimaram muitas, quando minha irmã adormeceu o sono profundo!
Flores de luz que de tanto que queimaram, poucas sobraram.
Ainda que fiz replantio, estou no escuro, porque todas as luzes se apagaram...
Nesses cento e oitenta dias que nossa mãe partiu.
Cento e oitenta dias entre telúricos e etéreos ruídos, o plantio de flores de luz que plantei para "Ela" sentiu!
Cento e oitenta dias sem parte de nós...
E cento e oitenta dias de pesadelo sem fim, em nosso jardim, a sós!
Cento e oitenta dias...
De escuridão sob cobertura de viscerais sangrias...
Amanhando e regando as poucas flores de luz que restaram.
Tirando a esperança, todas queimaram...
Quando o Ser que carrego no mais profundo...
Em meu resguardo, foste vivenciar as mazelas do mundo!
Amarro com fio de esperança flores de luz queimadas...
No escuro do viver obscuro de minhas alçadas...
Reparo os fuzis que ora queima, outra acende...
Sob a fumaça da guerra que explode.
Sob a ganância humana que coloca a humanidade em perigo...
E sob sabotagem de quem te chama de amigo!
Neste campo deserto, estou no escuro...
Em meio a tanta gente em apuro.
Sinto que a noite cai interminável...
Desde que apagaram luzes de gente confiável.
Desde que aprisionam estrelas da esperança...
E ofuscam o sol da perseverança!
Sinto que todas flores de luz vão se apagar um dia.
E sinto que do alto a luz do Criador meu Ser irradia.
Ainda sinto que apagaram flores de luz da verdade...
Porque não enxergo mais flores de luz da bondade nesse universo de falsidade!
Vejo flores de luz cegar, onde traição acende amor...
E amor que traí, redimir em quem traiu, a própria dor!
Sinto que queimou flores de luz da lealdade ao julgar prepotência...
Onde a inverdade acendeu a vela da aparência.
Sinto que flores de luz da injustiça não importam...
Se para pragas fecho a porta, em meu jardim não as comportam.
Importa, que estou no escuro da saudade pela escuridão da ausência.
Cento e oitenta dias no escuro de flores de luz da irmandade, vivendo em penitência!
Cleutta Paixão
Brasil 🇧🇷
30/10/2023
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