SENHORA SOLIDÃO
O sujeito que senta ou se deita é porque tem cansaço. Nunca vi alguém descansado querer ficar sentado ou deitado. Logo dá um jeito de acender o tempo e plantar vento.
Ao contrário da solidão, que erma, sempre desacompanhada, se sentindo só, se isola, apaga o tempo e não colhe vento. Cansada de esperar o tempo, segue acendendo o tempo com pingos de chuva,
- Assisti no tempo da distância uma Senhora Solidão, que no cansaço de ordenar vidas, augusta, se levantava, tomava banho, passava creme no invólucro d’alma, vestia o espírito, penteava ajeitando os fios do véu do tempo prateado sobre a cabeça, se perfumava e abria a porta da frente (às sete horas), depois, caminhava até a despensa (onde tudo era impecável), segurava a vassoura pelas mãos e saia valsando porta afora... Ela nem podia fazer essa extravagância, mas fazia com gosto.
- Qual melodia, sua mente ouvia? Nunca vamos saber. Sabemos que aproveitava suas saborosas horas de desjejum na calçada do tempo entre valsar com a vassoura e melodiar com a vizinhança de todas às ruas que desaguavam na avenida d’Ela. Por lá passavam dona alegria, beleza, o careta, desespero, a graça, o humor, a injustiça...
- Ah! Quando vinha a lástima junto a preocupação e a verdade, estampava Solidão a todos passageiros, e robusta no gosto do sorriso, abraçada a vassoura, varria bom dia, e ora ajuntava outra espalhava conselhos.
Quando no tempo adentrava em casa, se revestia de lustre, aromatizava a limpeza, enfeitava a arrumação, calçava organização, depois fazia o café (para dois) sempre para dois e fazia de novo quantas vezes mais...
Preparava a mesa com todas guloseimas que nem podia comer, frutas... E sentava de frente para a porta de entrada sorvendo o café devagarinho, servia a fome com colheradas de esperança que o tempo lhe traria um saboroso abraço. Sem poder, adoçava o viver enquanto degustada a saudade.
A Senhora Solidão almoçava sozinha ou na vizinha. Jantava consigo mesmo. E nessa rotina do tempo o dia saia sem despedir e a noite chegava sem lhe cumprimentar.
E a Senhora Solidão, na sua rotina fechava a casa e antes de se deitar orava... Chorara! Sem que a ausência percebesse ou quiseste saber porque teus olhos avermelhados entristecer? Nem porque se vestia de móveis e comia dolores?
- Jamais saberemos por quê cultivava flores?
- Jamais! Saberemos por quê as adubavam com gratidão tendo angustia no coração?
Descobrimos que o tempo do tempo chega desavisado, age calado, sem dar tempo de reparar o tempo, de pedir desculpas nem de redimir culpas.
E no tempo que o cansaço da Senhora Solidão não mais suportava sentar, nem deitar no tempo vazio, é chegado o dia que a Senhora solidão acordou na mesma rotina: todos cumprimentou abençoando (Eu estava lá dormindo até acordar de súbito com seu cansaço) e majestosa partiu sem incomodar, sem onerar, sem chorar.
- Até a felicidade sentiu!
- A quem culpar pelo cansaço exaurido da Senhora Solidão?
- Culpar a Pandemia que afastou a conivência e provocou sua depressão?
- Culpar a mordomia que tomou conta do tempo ou o comodismo da falta de percepção?
Sem culpas, sem desculpas, no tempo presente impera a saudade e imensa gratidão por cada dia do seu precioso tempo na terra, cuidando dos seus, ensinando ter dignidade. Valores. E guardar para si dolores!
Cleutta Paixão
Brasil
30/06/2023
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