quinta-feira, 1 de julho de 2021

Cronicando: COBERTOR


COBERTOR 

A minha relação com o cobertor vem de infância e bem distinta. 
A primeira, de o cobertor ser uma agasalho para família, uma vez que somando um cobertor multiplicando pelo número de pessoas na família, dividindo dessa forma com tais números de pessoas se agasalha a todos. 
O que na matemática soa esquisito e improvável ser possível fazer uma conta multiplicando um dividindo por no mínimo cinco se um vezes um e igual a um. 
Ou seja, a primeira lição de vida, é que não importa o quanto tens para multiplicar se tens que dividir com outrem. Igual multiplicando de divide amor, afeto, cuidado, proteção  e percepção, numa relação direta com nossos pais e afins. 
A exemplo, na casa de meus pais e padrinhos quando Eles saiam em viagem e era constante, nossa mãe colocava a cria toda na cama do casal debaixo de um cobertor. E igual, fazia a madrinha, onde mais ficava e multiplicava um cobertor dividindo com Ela e seus filhos, meus primos. E era constante ouvir:
- minha filha, não tira a coberta que os pernilongos vão te chupar!
Ou ainda quando choramingando estava fora da coberta me coçando toda até sangrar: 
- Eu avisei, vem pra debaixo da coberta minha filha! 
E voltava me cobrir restando me coçar debaixo da coberta. 

A segunda relação e essa nada tem de legal, se deve ao material que compõe o cobertor, na maioria por ter em sua base lã, o que me mim causa reação alérgica instantâneas provocando coceira e emergindo bolhinhas onde encostar, atingindo às narinas sufoca e deixa sem ar, motivo choramingar, coçar e descobrir a noite toda, enquanto mamãe ou madrinha me cobrindo achavam que os pernilongos eram os responsáveis, até o dia que houve um imprevisto numa viagem que fiz só com papai, estava frio e não havia cobertor, ele me cobriu com uma rede de algodão e dormir pela primeira vez sem descobrir ou coçar. E a partir daquela noite meu pai cortou às cordas da rede que passou a ser meu cobertor e ir comigo onde fosse. 
E de cobertor passei a ter ressalvas e quando mamãe me levou para escolher o enxoval, eu não queria o cobertor: 
- Mãe não compre o cobertor, é caro demais e não vou usar. 
- Minha filha, um cobertor não deve faltar numa casa. E virando para a atendente determinou: 
- Embrulhe esse cobertor, ele vai compor o enxoval. Imagine, minha filha sair de casa com enxoval pela metade?? 
E por todo tempo o cobertor ficou no maleiro embalado. Somente apreciado. 
Mas a vida ensina que em dias de inverno de nosso viver, o que nos aquece a alma entristecida, é o mesmo calor emanado por Deus nos dias de verão. No entanto, o que aquece nosso espírito em todo tempo, é a fé que temos e não a que professamos por Deus, Maria, Jesus, os anjos seus e naquele que Deus permitiu compor nossa família. Portanto, o que aquece a nossa vida em todas estações e principalmente nos dias frios de distâncias é o que levamos de nossos Pais, irmãos e entes. 
Nesse sentido, não se isente quando distante for, em fazer a mala da afetividade levando para vida o máximo que couber na bagagem de tudo que com seus pais, padrinhos, irmãos, sobrinhos e afins aprendeu e viveu, além do amor e cuidado, não esqueça o cobertor e a rede por mais surrada que for, para aquecer seus dias frios de saudades... Leve a chave da porta para que possa retornar na velhice de seus pais ou nos imprevistos da sua própria existência... Leve exemplo, o enxoval que tua mãe lhe preparou e junto leve a gratidão. 
- Confesso que depois de mais da metade da minha vida sem usar o cobertor que com todo amor minha mãe inseriu no meu enxoval, pensei muitas vezes em devolver ou doar, até mesmo, deixar para trás quando parti levando apenas o que dei conta de carregar. Mas, lembrei do sacrifício que foi para minha mãe preparar o enxoval e nele colocar o cobertor mais caro e, na bagagem o coloquei e o peso afetivo foi apoio e sustentou- me por vezes que vacilei. E acreditem, nesses últimos três anos tem sido o abraço que aquece meus dias frios de saudades infindas da minha mãe, amiga, conselheira e confidente. Alargado pelas costuras das bordas com fios da lembrança, saudades e gratidão, roçando minha face acaricia o sono da esperança de revê-los e adormeço confiante em Deus que chego a sonhar que tudo isso vai passar e vai ficar bem. E que bem antes do inverno terminar, vou estar com os mutuamente divido afeto e,
- Junto vou levar o cobertor. 

Cleutta Paixão
(01.07.2021)

Todos os direitos são reservados à autora Cleutta Paixão. Sendo expressamente Proibido a reprodução de partes ou do todo desta obra sem citar autoria, ou autorização expressa e assinada em doc. (art. 184 do Código Penal e da Lei 9610 de 19 de fevereiro de 1998).

Esta Crônica Poema compõe o Livro Parte de um TODO “Crônicas”- primeiro da série relatos poéticos, poemas, crônicas e contos que compõem a Coletânea “Totalidade” de autoria de Cleutta Paixão (pseudónimo Inêz Christina), lançamento previsto para dezembro de 2021.

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